As nossas histórias contam quem somos. Nas narrativas de perda, tendemos a contar o que sentimos, o que vivemos e o que perdemos. Por outro lado, quando as ouvimos, apressamo-nos a consolar o outro, dizendo as nossas boas intenções: o tempo cura tudo; para a frente é que é o caminho; ainda és nova, podes ter outro filho; a vida é assim mesmo; tens que ser forte. Estas frases, embora bem intencionadas, raramente trazem conforto ou compaixão. São chamadas de microagressões e são mais vezes ditas e ouvidas nas formas de luto desautorizado que se refere, sobretudo, a perdas que não podem ser assumidas publicamente. Perdas em contextos de relações homossexuais ou extraconjugais, perdas de animais de estimação, perdas perinatais, ou perdas estigmatizantes, são exemplos de lutos desautorizados. A sua vivência é sempre solitária e em silêncio. Num luto desautorizado, perde-se a oportunidade de se contar a história de perda e de se conhecer a vida dessa pessoa. Porque é a contar as nossas histórias de perda que nos relembramos quem perdemos, ao mesmo tempo que dizemos ao mundo que alguém existiu. No episódio de hoje, Sara Martinho, conta-nos a sua história, dando-nos a oportunidade de conhecer o Manel. É Psicóloga Social e facilitadora em Educação não-formal com forte interesse em intervenção social, activismo e análise política em direitos humanos. Parte do seu trabalho académico incide na conclusão da sua tese de doutoramento que estuda as microagressões em saúde.