Em episódios recentes do Octanage LAB (Dicas Práticas para Empreender em Tempos de Coronavírus | LAB004, Grandes Mudanças Econômicas Após o Coronavírus | LAB006) conversamos sobre as grandes mudanças que estão acontecendo diante dos nossos olhos na economia, sociedade, empregos, e acima de tudo, da criação de valor.
Nesse episódio LAB011 vamos fazer um estudo de caso sobre o futuro das viagens aéreas.
As companhias aéreas foram um dos primeiros setores a serem afetados, e passados 2 meses de isolamento durante a pandemia, certamente um dos mais afetados. Nos EUA, ocorrem apenas 5 a 10% dos vôos regulares. De acordo com números do TSA, a agência responsável pela segurança nos aeroportos, o fluxo de passageiros em Abril foi menos de 10% dos passageiros de um dia normal.
No imediato, vejo 2 grandes desafios para a aviação comercial:
- as pessoas terem os meios para viajar;
- senso de segurança das pessoas ser restaurado.
Além desses grandes desafios, o mundo digital oferece alternativas para fechar negócios. O Zoom, um dos aplicativos de teleconferência, vale hoje mais do que as 7 maiores empresas de aviação do mundo. A ampla disponibilidade da rede de dados (3G, 4G, Wifi) e a adoção dessas plataformas de teleconferência retiram incentivos à viagens.
Aviação: uma indústria devendo inovação há décadasA realidade é que a indústria da aviação se colocou numa zona de conforto em relação à inovação durante muitas décadas. Ao mesmo tempo em que a demanda por viagens crescia ano a ano, as linhas aéreas foram incapazes de gerar valor incremental no seu modelo de negócios. Na impossibilidade de oferecer valor, optaram por utilizar das regulamentações para impor modelos de receita muitas vezes predatórios:
- cobrança de taxas de combustível no período da alta do preço do petróleo
- imposição de tarifas para bagagens despachadas, e a limitação das bagagens de mão
- regras muitas vezes injustas em relação à mudança de vôos, overbooking, cancelamento de vôos, remarcação e cancelamento de passagens
- limitação dos prêmios sobre as milhas voadas
Nesses (des)caminhos da inovação na aviação comercial, há outros padrões. Praticamente todas as linhas aéreas brasileiras ativas na atualidade começaram com modelos de negócio low cost: assim surgiram a Gol e a Azul. À medida que cresceram, aboliram o modelo de baixo custo para adotar tarifas mais robustas e serviços minimamente diferenciados para justificar os preços maiores. Note que nenhuma companhia aérea brasileira oferece primeira classe - nem mesmo classe executiva nos vôos comerciais. Nessa jornada, para eliminar competitores, obter economias operacionais, e abocanhar clientes, colocaram o investimento em fusões e aquisições. A Gol adquiriu a Webjet, outra companhia que se baseava no modelo de baixo custo, pondo fim às passagens adquiridas à preços atrativos no mercado.
Uma variação nesse padrão foi a TAM, fundada pelo Comandante Rolim Amaro, com um modelo de negócios baseado na experiência do cliente. Transportes Aéreos Marília começou oferecendo vôos regionais no Sudeste e Centro-Oeste e rapidamente adquiriu fãs pelo serviço que incluia tapetes vermelhos sendo estendidos durante o embarque, que recriavam a sensação do glamour e privilégio perdidos na aviação das décadas anteriores. Hoje, para sobreviver no mercado, a TAM fundiu-se com a LAN formando a LATAM, a maior frota de aviões da América Latina.
Um passo atrás na história e encontramos o motivo da falência das linhas aéreas estatais que foram pioneiras da aviação mundial e criaram marca e renome ao redor do mundo: tanto a VARIG como a VASP não conseguiram criar a eficiência operacional e atingir o ponto de custos necessários para sobreviver na aviação dos anos 90.
Em resumo, em vez de privilegiar a inovação ao cliente, as linhas aéreas se limitaram a investir em redução de custos (com perdas para a experiência); em fusões e aquisições, que na prática limitaram ainda mais as opções de compra dos consumidores; em práticas oportunistas e predatórias com taxas temporárias que se tornaram permanente e até mesmo invenções de tarifas para centímetros a mais de conforto nas poltronas que seguiam desconfortáveis.
Tudo isso para operar vôos com margem de lucro baixíssima: estima-se que o lucro líquido de um vôo de Nova Iorque a San Francisco eram meros US$ 500. Isso mesmo: quinhentos dólares.
Olhando sob o prisma da inovação - uma das coisas favoritas nossas aqui no Octanage - fica fácil perceber o quanto essa tênue zona de conforto das linhas aéreas não as deixou preparadas para uma crise de demanda como esta sendo a do coronavírus.
Menciono rapidamente outros aspectos importantes para analisar a inovação nessa indústria:
- inovação real (porém limitada) aconteceu dentro dos aviões, cujo projeto e construção incrementou conforto e segurança para passageiros, equipes, pilotos, e aeroportos
- as linhas aéreas operam num modelo de negócios insustentável baseado em combustível fóssil. Há muito esperamos o Elon Musk da aviação, que possa desenvolver equipamento comercialmente viável para disromper os milhões de toneladas de gás carbônico postos na atmosfera pela aviação a cada ano
- a aviação é um dos setores mais regulados nos países e no mundo, com regras antigas, de dificíl negociação, criadas para um momento em que o número de vôos era muito menor e a aviação muito mais arriscada. Leia-se nisso tudo: um modelo feito para proteger as autoridades e as grandes linhas aéreas, não os passageiros, aplicado no mundo todo
Um Prognóstico para o Futuro das Viagens Aéreas a partir de 2020
Agora que compreendemos o contexto da inovação nesse setor, podemos olhar para frente e explorar as mudanças trazidas pela crise do covid.
Comprando o Bilhete
O que esperar: preços até 50% para os mesmos itinerários agora em 2020.
No aeroportoDurante o Vôo
Na sua opinião, o que vai mudar? Escreva no comentário abaixo ou através das nossas redes sociais.
Um grande abraço,
André Piazza
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